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Curiosidade sobre o nascimento do Parlamentarismo, nas palavras do professor Dalmo de Abreu Dallari.


Fragmento da degravação do Seminário Nacional sobre Acidente do Trabalho e Saúde Ocupacional, disponível no sítio eletrônico da Anamatra
"(...) Quando a Rainha Ana, alguns anos depois – em 1714 – morre e não deixa dependentes, o que vão fazer os ingleses? Convidam para assumir a Coroa da Inglaterra o parente mais próximo, mas que era protestante. Era um Príncipe Germânico – hoje o chamaríamos de “alemão” – da Casa de “Hanover”. Era Jorge de Hanover. Ele aceita o convite e vira o Rei da Inglaterra, mas com um detalhe extremamente curioso: ele não falava inglês e nunca aprendeu a falar inglês. O que isso vai trazer como conseqüência (entre outras)? É que, no começo – e essa história é contada por Churchill, o grande Ministro inglês, há um livro sobre a história dos povos de língua inglesa - o Rei Jorge ia ao Parlamento acompanhado de seus Ministros. Os Ministros eram ingleses e ele (como já disse) não falava inglês. Ele ouvia seus Ministros discutindo com os membros do Parlamento, mas não sabia o que estava sendo discutido – ele não participava das discussões. E, dizia Churchill, o Rei ficava ali enfadado, ficava por horas sem saber o que estava acontecendo. A conseqüência disso foi que ele resolveu que não iria mais – os Ministros é que iriam. E ele ficava, como um bom alemão, passeando de barco pelo Rio Tamisa (em Londres), tomando um bom vinho.
Há outro dado curioso também: a Rainha Ana gostava muito de música e havia contratado Haendel, que era alemão, para ser o músico da corte. Quando a Rainha morreu, Haendel ficou na “rua da amargura”, pois era detestado e invejado pelos ingleses. O que ele fez foi abrir uma pequena escola de música para sobreviver. Aí, por sorte vem um Rei alemão que queria conversar em alemão e que também gostava de música. Então Haendel vira o músico da corte. O Rei ficava passeando no Rio Tamisa, bebendo vinho do Reno, ouvindo Haendel, enquanto os Ministros ficavam discutindo com os burgueses sobre a política do reino. Daí a pouco os burgueses (os membros das Câmaras comuns) disseram: quem está governando, na verdade, não é o Rei.
Entre os Ministros havia um – o Roberto Walket – que tinha muito prestígio, muita liderança, e os outros Ministros o ouviam muito. Por ironia, por brincadeira, passaram a chamá-lo de “Primeiro Ministro”. Então falaram o seguinte: “mas é ele quem está governando! Vamos fazer o seguinte: daqui por diante só poderá ser Primeiro Ministro quem tiver a concordância da Câmara dos comuns.
Nasceu o Parlamentarismo. Os caminhos da História são incríveis, são inesperados. Aí a história prossegue e se instala o Governo que, na verdade, já não era mais do Rei e nem do Primeiro Ministro. Quem estava governando era o Parlamento, a Câmara Burguesa. (...)"